In the end it's all nice

domingo, maio 21, 2006

Praça Luis de Camões, 7h16m. Espero um táxi na paragem. Não é habitual estar sozinho, mas tal facto não me incomoda. Tão pouco me incomoda a intrigante luz do crepúsculo. Até porque a ligeira brisa que se faz sentir anuncia novamente um agradável dia de Primavera. É reconfortante assistir ao nascimento de mais um domingo soalheiro, apesar de não fazer tenções de o disfrutar em demasia. O lixo que cobre a praça ainda denuncia o pulsar da noite anterior, tal como as olheiras que me enfeitam a cara. Cruzam-se as pessoas que já a esta hora iniciaram o seu dia com aquelas que ainda não terminaram o anterior. Indiferentes umas das outras, e ambas indiferentes à minha presença no princípio da fila inexistente.

Aparece um táxi da direita, subindo o Combro. Está livre. Não podia ter aparecido em melhor hora. O cansaço que me invade começa a redefinir as minhas vontades. O táxi aproxima-se. A hipótese de não contornar a praça para me apanhar alia-se ao desejo de chegar rapidamente ao meu destino, sendo impelido a correr na sua direcção e a acenar para que pare. Mas não o faço. Num segundo forma-se uma lógica que me impede. O facto de me encontrar na paragem demonstra as minhas intenções. O taxista viu-me, concerteza. Se quiser a corrida contornará a praça. Mas não o faz. Nos semáforos vira à direita em direcção ao Cais do Sodré. Não importa. Outros virão e, até lá, vou disfrutar mais um pouco o lento acordar da cidade.

Não demora muito até que apareça outro táxi. Novamente da direita, subindo o Combro. E novamente livre. Assim que o vejo sou invadido por uma indiferença em relação à direcção que toma que contrasta inexplicavelmente com a situação anterior. Além disso começo a sentir que devia ter corrido e mandado parar o táxi anterior. Mas este, desta vez, contorna a praça para me apanhar. Entro e cumprimento o taxista. Por não olhar para trás a única imagem que tenho é a de uma confusão de cabelos brancos teimosamente penteados com a ajuda de um gel que, no limite, disfarça a oleosidade natural e onde as fronteiras com a densa barba, também ela branca, há muito se esbateram. Revelo o destino. Com alguma sorte o meu carro passou as últimas noites sem ser incomodado e poderei, finalmente, ir para casa. A viagem é bastante tranquila. O meu silêncio não é interrompido. As regras básicas de trânsito são respeitadas, bem como os condutores que connosco se cruzam. O meu pedido para parar no sítio exacto que pretendo é acedido prontamente. A resposta ao meu bom dia é afável e cordial. Apesar de tudo saio do carro a pensar que devia ter corrido e mandado parar o táxi anterior. A corrida não podia ter sido mais adequada. Mesmo assim fico a pensar se não me tinha divertido mais com um taxista que insultasse tudo e todos à sua passagem. Ou se não tinha sido mais emocionante ser conduzido por um daqueles que arranca com semáforos no vermelho. É isso. Emocionante.

15 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Que lindo!!!

12:04 da tarde, maio 22, 2006

 
Blogger Mr. Brightside said...

Deve ser da Primavera. Mas podia dar para pior: há aqueles que ficam com urticárias...

12:43 da tarde, maio 22, 2006

 
Blogger Nadia said...

Ou azia...as indisgestões são lixadas...

12:46 da tarde, maio 22, 2006

 
Blogger Mr. S said...

Calma meus amigos... obviamente o nosso anonymous de estimação (há quem tenha passaros, cães ou ratos) precisa de ajuda. Temos de o tratar bem e com carinho, tal como ele nos trata a nós. Portanto, eu, mr s, anonimamente lanço aqui um apelo para ajudarem este nosso querido anonimo. Lanço tb aqui outro apelo... Anoni (Nome carinho)Ninguem te obriga a ler este blog. Diverte-te com outras coisas... com outros sites, outros blogs. Se quiseres posso-te sugerir uma série de hobbies q te levam á felicidade (obviamente falta aí qq coisa). Todos os problemas têm solução... mesmo os anonimos. Fica bem e arranja uma vida... pelo menos mais interessante da que tens agora.
Peace.

12:56 da tarde, maio 22, 2006

 
Blogger Nadia said...

A.A.A
(Associação dos Amigos dos Anonis)

:D

12:58 da tarde, maio 22, 2006

 
Anonymous Anónimo said...

Que maravilha!!!

2:12 da tarde, maio 22, 2006

 
Blogger Mr. S said...

Que regozijo!!!

2:34 da tarde, maio 22, 2006

 
Blogger Zorn John said...

Bright, belo texto, adorei. Mesmo assim continuo a achar que devias ter apanhado o outro fogareiro ;D

3:50 da tarde, maio 22, 2006

 
Blogger andalsness said...

Oh, que precipitações. Ser anónimo é tão legítimo quanto não ser. Todos nós somos mais substanciais do que qualquer Bilhete de Identidade. Um nome, um nick, será sempre hipónimo no nosso ser. E há circunstâncias, conjunturas, estruturas. E ausência delas. E é humano, pombas! Como qualquer virtude. Isto, hiperonimamente dizendo, com a facilidade que a generalidade permite. E, bolas, não sejamos tão epidérmicos. Que nem toda a derme é paqui chamada. Imagino um homem-elefante ou um corcunda da nossa senhora a ocultar a face. Não deve ser fácil. Mais, fosse eu o Minotauro, acredito piamente que não assinasse como tal. Não aqui, muito menos no Colete Encarnado. E creio que não deixaria de ser, assim mesmo, entidade emocionável e emocionada. E isso é bom. É bom que a realidade nos toque. Pique. Mas desenganem-se. Não é preciso ser Monstro para a cara não querer dar. Pois que tanta Bela não a dá. Já que precisa de ajuda parece-me assumpção abusiva. Há quem viva fascínio pelo ignotus. Pelo desconhecido, pelo indefinido, pelo vago, pelo indeterminado, pelo ambíguo, pela ignorância. E com ela faça vida. Ainda assim, não é tão excessivamente especulativa quanto a que afirma que ninguém obriga o tal ente (pois que há sempre a questão de género - essa que as ambiguidades da língua inglesa permite) a ler este blog. Não é líquido (cá está) que não seja na condição de anónimo absolutamente atado que lá se lê estas sólidas (e lindas) linhas. Desenvolvamos o exercício de tolerância: imagine-se, o ignoto ente, Kubricklike atado a uma cadeirinha de baloiço hipo-estável made and slowly rocked in china. Muito rebuscado? Não, plausível, quanto qualquer outra hipótese. Que tudo pode ser tudo. E, sim, outros blogs existem, outros sites há, mas algo nos impele a ler e a comentar estas linhas. Não outras. São assépticas linhas, digo eu. E, vá, não nos saturemos assim dos que com estas se suturam.

4:14 da tarde, maio 22, 2006

 
Blogger Zorn John said...

Penso que o Andalsness queria dizer: tá tudo legal. Numa boa. É tudo espectacular.

4:51 da tarde, maio 22, 2006

 
Anonymous Anónimo said...

Brilhante!!!

5:53 da tarde, maio 22, 2006

 
Anonymous Anónimo said...

Anónimo, és um bocado irritante! :P

6:03 da tarde, maio 22, 2006

 
Blogger Mr. S said...

Tico diz: "Brilhante!" Teco diz: "Que maravilha!"

6:09 da tarde, maio 22, 2006

 
Anonymous Anónimo said...

Não, não! O tico disse: "Que maravilha!!!" e o teco é que disse: "Brilhante!!!"

6:53 da tarde, maio 22, 2006

 
Blogger Nadia said...

E o tótó respondeu acima...

1:59 da tarde, maio 23, 2006

 

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